terça-feira, 18 de outubro de 2016

Eu senti saudades tuas.

Não sei dizer ao certo quanto tempo se passou desde o dia em que me deixaste, não contei os dias e deixei correr as noites agarrada a uma almofada encostada contra o peito.
Tu não te foste embora, quer dizer, não me deste um adeus, não me disseste que éramos um poço sem fundo cheio de lodo; foste indo, como quem caminha acompanhado por um pôr do sol à beira mar, aproveitando cada passo certeiro que davas para me deixar do outro lado da praia. Foste embora da mesma maneira que chegaste, sorridente, calmo e seguro de ti; quando chegaste alberguei-te com tudo o que de bom tinha, com a esperança vã de que isso fosse suficiente para te manter perto de mim.
Apercebi-me da tua partida demasiado tarde. Só me apercebi que já tinhas ido quando eu também já não estava cá. Insisti, vezes sem conta - demasiadas vezes do que aquelas a que me devia ter permitido - conseguir contactar-te, conseguir manter-te por perto para me ter de volta a mim. A minha rotina já não era a mesma, já não acordava com uma mensagem tua, não te ia buscar ao fim do jogo de futebol a que tinha assistido orgulhosamente da bancada nas manhãs de domingo, não íamos jantar ao restaurante chinês onde chorávamos de tanto rir, não íamos ao cinema e tão pouco passávamos horas dentro do carro estacionado no miradouro da nossa cidade. 
Tentei erguer-me, uma e outra vez, agarrada a algo que não tinha mas que me tentava convencer que nunca tinha desaparecido de mim; cada queda era mais forte e avassaladora que a anterior, caminhei sozinha debaixo de chuva acompanhada por uma alma vazia que fazia questão de tentar lavar, escrevi cartas até que as mãos me doessem e depois queimava tudo, porque aquilo que arde cura. Só que não curou.
Via-te passar pelas janelas dos cafés, de braço dado a essa que era o teu novo brilho no olhar, acompanhei-te de longe, sempre pronta para te amparar caso viesses a cair, queria tanto amparar as tuas quedas que me esquecia de evitar as minhas. 
Hoje, sentada na mesma mesa de café onde te vi passar com ela de braço dado pela primeira vez, escrevo-te. Escrevo-te uma última vez, como quem tira um peso que carregou demasiado tempo aos ombros, escrevo-te pronta a queimar o último pedaço do que me restou daquilo que nunca tive. Hoje tenho-me de volta; eu senti saudades tuas mas morria de saudades minhas.